sexta-feira, 16 de julho de 2010

Análise: Shrek Forever After

Eis outra adaptação do cinema ao formato videojogo. Shrek Forever After inscreve-se numa inenarrável lista de adaptações, transformação essa que se opera sem grandes revoluções ou acrescentos. No fim o objectivo passa por pactuar de perto com o argumento fílmico ao mesmo tempo que se aplicam os moldes comuns de géneros em voga; plataformas, “shooters”, racers, etc. Nalguns casos a adaptação é boa: há engenho suficiente pelos produtores para acrescentar algo novo, como – podemos dizer – aconteceu ainda há pouco com Toy Story 3, palco de boas impressões.

Com Shrek Forever After não ficamos convencidos. Através de uma perspectiva isométrica tridimensional iremos acompanhar a última aventura de Shrek, compaginada com a trama desenvolvida pela Dreamworks. Até aqui tudo bem, entranhamos pela apresentação das personagens e motivação que as liga neste capítulo derradeiro. Contudo, quando é chegada a hora de obter créditos pela estrutura e interactividade, o jogo tomba num círculo de acções repetitivas e sistemáticas, combinando acção com resolução de puzzles. Na prática é fácil derrubar e levar de vencida tudo o que intercede pelo caminho e quando ficamos bloqueados a solução está toda à mostra. Mais uma vez só podemos crer que é um jogo talhado para uma audiência juvenil, tal a simplicidade empregue nos mecanismos e esquemas de interacção entre as personagens.





Shrek lida com a fruta.
Nesta aventura que se distancia das outras da série, o jogador ou até dois jogadores em operações partilhadas no mesmo espaço (não tem on-line) irão assumir o controlo de algumas personagens estruturais como Shrek, Fiona, Donkey e gato gordo das botas – Puss-in-Boots. À boa moda dos jogos de acção em perspectiva isométrica as diferentes habilidades dos protagonistas funcionam como indicador dominante na progressão. Conjugando os poderes e técnicas especiais detidos por cada uma das personagens irão completar puzzles, aceder a tesouros, abrir zonas secretas e ... progredir entre cenários de diferente índole. Muita conversa pelo meio, algumas cenas animadas e praticamente nada de novo para descobrir.

No meio deste arrumo de interacção conhecido para alguns ao qual se dá conta de manifesta facilidade na progressão dos objectivos o melhor fica reservado para a história e para as ligações entre as personagens, aqui bem reproduzidas e com boa vocalização, atestada pela participação dos mesmos actores que emprestaram as vozes para o filme. O sistema de combate opera-se através de uma combinação de golpes de ataque, sujeita a graduação pelo incremento dos níveis de combate. Essa subida de nível opera-se em lojas específicas a troco de boas somas monetárias. Por isso é indispensável que recuperem o máximo de tesouros possível. Com outro conforto financeiro poderão requisitar todo o tipo de ajudas que irão encontrar ao longo da aventura.

Golpear e desfazer os adversários é do mais simples e muito embora as execuções dos golpes variem de acordo com a personagem seleccionada não há muito mais a apontar do que pressionar os botões para o efeito com alguma insistência. Mais interessante revela-se o sistema de realização dos puzzles. Se estiverem a jogar sem mais ninguém basta-vos o d-pad para seleccionar e operar uma mudança instantânea de personagem. Isto é particularmente útil para decifrarem os segredos já que o gato salta entre postes separados, Shrek carrega objectos pesados e move grandes rochas, Fiona lida bem com explosivos e Donkey usa as patas traseiras para abrir portas.




Voltar à vida original de Ogre pode não ser assim tão bom
No entanto, também aqui a execução passa pela simplicidade, já que na maioria das vezes, os objectos a lidar e interagir estão decalcados com marcas das personagens respectivas e se não tiverem seleccionado a correcta, um balão indicará qual das quatro devem aprontar para a tarefa. Ao fim de algum tempo os puzzles resolvem-se de uma forma rotineira, sem grandes segredos ou novidades acrescentadas depois de explicado o funcionamento geral.

Para os jogadores mais novos até se torna numa experiência interessante. O jogo não falha nos mecanismos: o controlo e movimentação das personagens é imediato. Além disso a representação gráfica dos cenários, longe de surpreender e sem grandes efeitos, cumpre perfeitamente o papel através de áreas diversificadas, bem preenchidas e dotadas de um mínimo de convencimento. O problema está na entrega. Para um jogador adulto e habituado a experiências mais complexas e exigentes, não vai encontrar neste Shrek grandes motivos que o persuadam para se manter ligado por muito tempo.

Shrek Forever After tem o seu público e foi com esse alvo em mente que os produtores optaram por arriscar pouco ao mesmo tempo que privilegiam a ligação ao filme. Para jovens fãs entrega as ferramentas ajustadas a um desafio interessante. Fora disso não acrescenta novas soluções nem injecta novos argumentos capazes de inaugurar novos capítulos para lá da ordem de combate e resolução de puzzles.

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